quarta-feira, 27 de junho de 2012

Outros mundos além deste

Impactado pela obra de J.R.R. Tolkien, um jovem Stephen King, de 19 anos, aspirou criar um épico de fantasia comparável, em grandiosidade, a'O senhor dos anéis. Ele, porém, não começou a escrever o que viria a se tornar a coleção A Torre Negra senão três anos depois, quando finalmente sentiu-se seguro de que não apenas reproduziria uma história sobre "duendes e magos", mas que havia encontrado sua própria voz. A essa altura, estava inspirado também por uma segunda referência, Três homens em conflito, filme de faroeste com Clint Eastwood, e havia definido melhor sua ambição: pretendia escrever o romance popular mais comprido da história. Para tanto, os sete livros que formam A Torre Negra, escritos ao longo de mais de trinta anos (de 1970 a 2003), apresentam uma trama muito contínua e interdependente. Além disso, King acrescentou crossovers do que é considerada sua "magnum opus" em diversas de suas outras obras, como A coisa e A dança da morte.

A torre negra pode não ser o trabalho mais popular de Stephen King em número de leitores, mas é o que possui fãs mais apaixonados, sempre ansiando por uma novidade sobre ele. Em resposta a isso, o material sobre a Torre vem sido continuamente ampliado, através da publicação, desde 2007, de uma HQ que revela mais do passado do protagonista; do lançamento, esse ano, de um oitavo livro, cujo enredo situa-se entre o quarto e o quinto; e da idealização de um megaprojeto, do qual fariam parte uma trilogia de filmes produzida pela Warner Bros e um seriado de televisão, pela HBO. Afora, é claro, da divulgação, principalmente na internet, de todo tipo de arte fan made inspirada na série - afinal, nós, fanboys, temos mesmo prazer em promover nosso objeto de fanatismo.

King esforça-se em aproximar a história dos leitores, através de referências a acontecimentos históricos recentes e cultura pop, mas a total responsabilidade pelo encantamento dos fãs não pode ser atribuída somente a isso. É a própria Torre que nos fascina, tanto quanto ao protagonista, Roland Deschain, e, posteriormente, ao seu ka-tet (grupo de pessoas unidas pelo destino - ou ka).

A Torre Negra em Can'-Ka No Rey - arte fan made
"'Suponha que todos os mundos, todos os universos se reúnam num único nexo, um mesmo portal, uma Torre. E que dentro dela haja uma escada, levando, talvez, à própria Divindade. Você teria coragem de subir até lá, pistoleiro? Não é possível que em algum lugar sobre toda essa infinita realidade exista uma Sala?...

'Você não teria coragem.'
E na mente do pistoleiros, aquelas palavras ecoaram: você não teria coragem."


Stephen King. O pistoleiro.



A Torre é o pilar que sustenta os mundos - e aqui não estamos falando de astronomia, mas das esferas interligadas que são nossas histórias de vida, bem como dos universos paralelos originados pela ficção. Roland, o último pistoleiro vivo, incumbido de manter a ordem em uma realidade pós-apocalíptica, que, entende-se foi causada pelo mau uso da tecnologia, busca a Torre com ânsia - não inteiramente movido por suas responsabilidades, e sim por razões particulares. Contra ele estão agentes do caos como o cínico Homem de Preto, a quem Roland persegue durante a jornada, e o insano Rei Rubro, que o pistoleiro pretende encontrar preso nalgum andar da própria Torre. Todos nós desejamos, em vários momentos, o que o topo da Torre encerra, mesmo que a custa de exaustão. A coleção opõe a amargura com a possibilidade de recomeço, culminando em um final controverso, que pode não agradar a todos. Falando por mim, vivi com A Torre Negra um relacionamento completo: todos os sentimentos provocados por ela, mesmo os de desagrado, foram intensos.


Pelos mundos sustentados pela Torre, os personagens da obra de Stephen King transitam como nós podemos fazer ao conversar com alguém, abrir um livro ou assistir a um filme, deixando a limitação da nossa esfera, ao encontro de novas possibilidades. Mas, como canta a banda Demons and Wizards, na música The gunslinger, do álbum Touched by the Crimson King (todo inspirado  n'A torre negra), ainda que "existam outros mundos, certamente nenhum é como este" que encontramos na coleção de livros de Stephen King.




Longos dias e belas noites.




























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